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Uma Breve Síntese da Inserção do Brasil na Globalização


 
 



A Formação do Mercado Brasileiro de Comodities


Historicamente, os brasileiros têm tido dificuldades na formação e melhoria de suas rendas e níveis de consumo, e nem mesmo o vertiginoso crescimento industrial das décadas de 1960 e 1970 conseguiram mudar isso.


A razão é simples; os processos de desenvolvimento econômico no Brasil estiveram sempre excessivamente dependentes de seus desempenhos no mercado externo afim de gerar mais divisas, e não na formação de um sólido mercado interno através da consolidação dos processos de produção e consumo.


Quando das décadas de 1960 e 1970, não haviam ainda as maravilhas do agronegócio de hoje, o objetivo era exportar comodities industriais, muito parecido com as políticas vigentes em toda a Ásia de então; com a diferença que não passamos para fase seguinte na formação de um sólido mercado de consumo como aconteceu para a China Comunista e a Coréia do Sul por exemplo.


Então, o processo de industrialização Brasileiro ficou prisioneiro de um mercado externo de quinquilharias industriais Yankees incapaz de competir com seus homônimos tanto da China Comunista, Coréia do Sul ou do Japão durante as décadas dos 60 e 70.


Enquanto que esses países asiáticos passaram para a fase seguinte na formação de um sólido mercado interno, investindo consequentemente em um coerente processo de desenvolvimento tecnológico próprio; aqui no Brasil ficamos prisioneiros das políticas de substituição de importados; voltados para um mercado interno de baixa renda e, portanto, de baixo desenvolvimento tecnológico, assim como, para um mercado externo aonde não conseguíamos competir com os asiáticos por essas mesmas razões.



As Diferenças entre o Desenvolvimento da China Comunista e do Brasil


A pergunta que permanece é essa: como os asiáticos passaram para a fase seguinte de um desenvolvimento tecnológico próprio e a formação de um mercado interno de renda alta e nós aqui no Brasil não. A resposta está nas políticas de inserção na globalização, as quais estamos sujeitos atualmente, mas que começaram lá atrás nos finais de 1970 e início de 1980.


A elaboração do plano viário brasileiro definiu então o que seria essa gigantesca área do mundo maravilhoso do agronegócio dos dias atuais. A consequente e formidável marcha para o centro-oeste iniciada ainda no final de 1950, com a ajuda desse plano de ocupação do território nacional, adicionou-se uma enorme quantidade de ativos na economia, os quais, tornaram-se cidades, fazendas, produção agrícola, postos de gasolina e supermercados, além de outros.




Esses ativos criaram um enorme impulso na economia brasileira nas décadas seguintes, o que foi amplamente acompanhado pelos processos de industrialização propulsados pelas políticas de substituição de importados. No final de 1980, a economia do Brasil atingia um nível de desenvolvimento e industrialização muito maior do que a Coréia do Sul e da China Comunista de então; nos colocando nessa época entre as primeiras 5 economias do mundo.



A partir de 1980, as políticas Yankees de inserção forçada, no que viria a ser a globalização dos dias de hoje, tomaram um outro rumo, favorecendo o desenvolvimento industrial e tecnológico, assim como, a formação de um forte mercado de consumo apenas e, tão somente, na Ásia.


Ao mesmo tempo, os interesses Yankees na nossa região passaram a conter a economia brasileira dentro dos limites do agronegócio; não apenas como fornecedor agrícola, mas também, de minérios através da Vale do Rio Doce, definindo-se as estratégias conjuntas de inserção global dessas comodities com as multinacionais Bunge e Cargill. Na Ásia, concomitantemente, surgem Toyata, Sumsung, Hyundai, Kia e outras com características típicas de produtos de consumo industrial.




Características do Mercado de Consumo Brasileiro


A partir de 1980 em diante, o processo de industrialização do Brasil decaí rapidamente junto com a formação da renda dos Brasileiros, levando-se a essa estagnação do mercado de consumo o que vem se arrastando até os dias de hoje.

O impressionante surto inflacionário que se seguiu não apenas no Brasil, mas também, no México e na Argentina, foi decorrente desses processos Yankees de inserção desses países na formação da atual globalização.


Enquanto que por toda a Ásia, a impressão de dinheiro fiduciário (Fiat Money) foi amplamente utilizada para aumentar emprego, salário e renda. Aqui nesse nosso Subcontinente, os financistas de Wall Street impuseram tremendas restrições à essas políticas de emissões fiduciárias, usando da especulação cambial para provocar hiperinflação, contendo com isso a emissão de moeda por todos os países dessa nossa região.



Eles deixaram bem claro, então, que nossa inserção na globalização seria focada apenas na produção de comodities. E que qualquer outro processo de aquisição de moeda se daria apenas através do acumulo de reservas externas, destinadas à estabilização e valorização do câmbio nacional com objetivo de aumentar o consumo de produtos importados da Ásia, caso contrário, voltariam os processos de especulação financeira e a consequente hiperinflação, ameaçando com isso a estabilidade econômica e financeira dos países que se atrevessem a se desalinhar dessas políticas de globalização Yankees de Boston, Nova York e Wall Street.


O caso da Argentina é exemplar; mostrando o quanto as ações Yankees através dessas especulações impostas desde Wall Street serviram para lhes impor por um lado, um eterno processo inflacionário, e por outro uma acelerada desindustrialização. Já na Ásia, a impressão de dinheiro fiduciário em larga escala (Fiat Money) foi amplamente usada para criar em menos de 30 anos uma economia de 18 trilhões de dólares como na China Comunista.


Na Argentina, esse mesmo uso de Fiat Money foi amplamente reprimido pela especulação financeira de Wall Street, sempre fazendo parecer que tudo era por causa da falta de “certas” reformas econômicas neoliberais, as quais jamais foram usadas na Ásia, fomentando-se lá um sólido mercado de produção e consumo, e cá essa imensa estagnação e decadência social.


O Mágico de Agro-Óz e o Voo da Galinha


No Brasil, o caso foi semelhante com uma exceção. A partir do Plano Real, nos finais de 1990 e início dos 2000, as imensas áreas reservadas para o agronegócio começaram a frutificar, gerando enormes quantidades de reservas cambiais; na mesma medida em que começaram os processos de industrialização forçada e os aumentos de salários e rendas na China Comunista e por toda a Ásia; o que acabou por produzir um vertiginoso aumento no consumo de comodities agrícolas para a produção de alimentos.



O resultado foi a progressiva estabilização da moeda nacional do Brasil até atingirmos os atuais 350 bilhões de dólares em reservas cambiais, iniciando-se consequentemente um processo de hipervalorização do Real, chegando nessa época a nos colocar artificialmente como a 4ª ou 5ª economia do mundo, dando a todos uma falsa impressão de aumento de renda dos brasileiros.


Essa súbita valorização do Real não foi obviamente suficiente para aumentar, ou modificar, a formação histórica da estrutura de renda dos brasileiros, mas apenas para nos dar uma falsa impressão de aumento no poder real de compra da moeda nacional através de um maior consumo de importados.

Essas variações cambiais artificiais, aliadas a contínuas e persistentes precariedades históricas na formação de empregos de baixa produtividade no Brasil, nos direcionou a um instável mercado de produção e consumo, que ora crescia impulsionado por crédito farto e câmbio super valorizado, mas que rapidamente se exauria devido a esses baixos níveis de produtividade dos empregos, o que criava, e ainda cria, instabilidade na formação dos salários e renda dos brasileiros; levando-nos a quedas e aumentos cíclicos tanto para os níveis de consumo quanto para produção. Esse processo ficou conhecido como o do desenvolvimento do voo da galinha.


O Mágico de Agro-Óz e a Desindustrialização


Esses processos de anda e pára no desenvolvimento da economia brasileira acelerou a desindustrialização, já que o mercado de consumo brasileiro não tinha fôlego e as indústrias locais não adquiriam, por isso, economia de escala para produção de bens mais competitivos e aumento na produtividade de seus processos industriais. Do mesmo modo, o processo de consumo de importados decaia rapidamente pelas mesmas razões, favorecendo o acumulo de reservas cambiais pela inibição de rendas disponíveis para as importações.



O pano de fundo dessa questão da formação de um sólido mercado de consumo no Brasil está, como se pode perceber, intimamente ligado; por um lado às políticas de inserção forçada do Brasil nessa globalização; e por outro por persistentes anacronismos na formação de empregos de baixa produtividade. E suas razões principais são essas:

Primeiro, na medida em que o uso de dinheiro fiduciário (Fiat Money) foi severamente inibido pelos Yankees de Wall Street, o crescimento de empregos, salários e rendas ficaram estagnados no Brasil quando comparados com a Ásia, dependendo apenas de variações cambiais artificiais; como consequência ficamos presos ao famoso ciclo de desenvolvimento vicioso do voo da galinha, repetindo um processo histórico ruim de formação de empregos de baixa produtividade.


Segundo, o enfoque exagerado da economia brasileira na produção de comodities através da Bunge, Cargill e Vale do Rio Doce, por exemplo impuseram uma desqualificação na formação de um mercado de emprego e consumo no Brasil que, por isso mesmo, ficou deficiente tanto para o desenvolvimento de indústrias locais, quanto para o consumo de importados; provocando o definhamento tanto dos salários e rendas, quanto da capacidade de consumo dos brasileiros; afetando com isso a quantidade de empregos disponíveis na economia como um todo.


Terceiro, na medida em que definharam os salários e rendas, o consumo e, consequentemente, o tamanho do mercado nacional brasileiro; apenas através do acumulo de reservas cambiais não foi suficiente para injetar dinheiro em larga escala na economia com o objetivo de se gerar mais empregos e aumentos nos salários e rendas. Mantendo-se esse conhecido histórico processo de formação de empregos de baixa produtividade e renda no Brasil, reforçando-se o voo da galinha, já que no final não se produzia ganhos efetivos para o fomento de um desenvolvimento econômico nacional virtuoso com ganhos efetivos de produtividade do trabalho dos brasileiros.


Por outro lado, a impressão de dinheiro fiduciário (Fiat Money) foi amplamente usada na China Comunista e na Ásia, de modo geral, em conjunto com os elevados saldos na balança comercial. Injetou-se, com isso, imensos recursos monetários nas economias locais asiáticas, gerando-se mais empregos e com maiores produtividades, melhores salários e com rendas mais altas e como consequência, criando-se esse imenso mercado de produção e consumo dos dias de hoje.



A Conclusão final que fica dessa breve síntese da inserção internacional da economia do Brasil é de que, no final das contas, o que realmente fez a diferença entre o desenvolvimento do Brasil e da China Comunista e do resto da Ásia foi o amplo uso da impressão de dinheiro fiduciário ou mais conhecido como “Fiat Money”.


Lá, o Fiat Money foi usado em larga escala e aqui foi amplamente reprimido pelas elites neoliberais de Boston, Nova York e Wall Street com o intuito de se definir essas atuais políticas de inserções na globalização; aonde a Ásia tem alto nível de desenvolvimento econômico e industrial e nós minguamos nesse progressivo desemprego e desindustrialização.


Esses efeitos negativos da globalização não ocorreram apenas no Brasil, mas se propagaram por todo o Continente Americano, inclusive nos Estados Unidos, nos reduzindo a todos, forçosamente, a simples produtores das maravilhas das comodities do Mágico de Agro-Óz, e de seu consequente subdesenvolvimento social.


 

Pelo Professor Ricardo Gomes Rodrigues


São Carlos, SP, Brasil


24 de fevereiro de 2021

 

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